quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CHAMADO DIVINO OU ESCOLHA PROFISSIONAL?

CHAMADO DIVINO OU ESCOLHA PROFISSIONAL?


Vivemos hoje em meio a um mercado religioso que, muitas vezes, as pessoas já não sabem mais diferenciar o sagrado do profano. São muitas as pessoas se autodenominando ministros e ministras do evangelho e muitas, também, as que se encontram desiludidas com o evangelho. Falar de igreja hoje é quase a mesma coisa que falar de empresa – o assunto principal vai ser dinheiro. O que podemos fazer para que o nome de Cristo ou a igreja de Cristo não seja afetada ainda mais por este mal do século?
Podemos pensar em três tipos de ministros ou ministras: os chamados por Deus, os apadrinhados por outros ministros e os que escolhem ser ministros ou ministras por profissão. Com certeza os três têm algo em comum: “pregar a palavra de Deus”. Gostaria de fazer uma avaliação de cada um dos tipos citados, o que não vem a ser um julgamento.


Ser ministro ou ministra por profissão

Olhando do ponto de vista financeiro, podemos afirmar que é um ótimo investimento fazer uma faculdade de Teologia e se tornar “um ministro ou ministra do evangelho”. O custo não se diferencia muito dos outros cursos oferecidos pelas faculdades. Já a oportunidade de trabalho, depois de formado, é muito maior para quem fez um curso de teologia do que para quem fez um curso de administração, por exemplo. As vantagens que muitas igrejas oferecem para os ministros e ministras nem se compara com o que uma empresa oferece para seus funcionários. E para piorar, quando uma igreja não admite um desses “ministros ou ministras”, eles têm a oportunidade de abrir uma própria igreja, o que vai tornar sua remuneração ainda maior.
Não podemos negar que muitos destes “ministros e ministras” realmente pregam o evangelho, levam pessoas ao encontro com Cristo. Talvez, não vivam o evangelho, mas o pregam. Pessoas realmente têm suas vidas transformadas por Cristo através destes “ministros e ministras”. Paulo fala a respeito disso em Fl 1.18: “Mas que importa? Contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei; porque sei que isto me resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo”. Como verdadeiros cristãos não podemos impedir que tais “ministros e ministras” preguem a Cristo, mas podemos levantar a voz quando o evangelho esta sendo deturpado. Como diz certo ditado: “quando o bem se cala, o mal prevalece”.
Também não posso deixar de fazer uma avaliação dos ministros e ministras que já estão atuando, pois o estrago realizado em comunidades por parte de alguns também já é grande. Não sei se é por causa do comodismo, do seu bem-estar, ou se alguns já cansaram em sua caminhada de fé e acham que Deus não é mais capaz de mudar a vida de pessoas que por ele se deixam ser transformadas. Tenho observado em algumas comunidades, através de conversas com algumas pessoas, que a sua base de fé já não está mais na obra redentora de Cristo na cruz (sola gratia) ou nunca esteve. O sacrifício de Cristo na cruz já não é suficiente ou não é entendido como suficiente para a salvação do ser humano.
Neste caso, a igreja está em crise, deixou de ser cristã. Sabemos que o ministro ou ministra não é o detentor da verdade, ele também pode ser questionado pelos membros de sua igreja, mas claro, tendo uma fundamentação teológica para tal questionamento. Porém, o que percebo em algumas comunidades é que o relacionamento delas com alguns ministros e ministras se dá da mesma forma como entre patrão e empregado, onde a comunidade paga o ministro ou ministra para fazer aquilo que ela acha necessário, como por exemplo: para algumas comunidades o ministro é pago para fazer o batismo, a confirmação, o casamento, o sepultamento, etc. E como alguns ministros não sabem fazer outra coisa ou não querem fazer outra coisa. Além disso, se submetem à comunidade, deixando de exortar, de ensinar o evangelho de Cristo para não perder suas mordomias, seu ótimo salário. E, com isso, a comunidade que recebe o título de cristã causa mais escândalo com o nome de Cristo, pois frente a isso os de fora (os não-cristãos), nunca desejariam se tornar um cristão, vendo que aqueles que se dizem cristãos são piores que muitos que não têm igreja. Lembremos do que disse Gandhi: “Amo o cristianismo, mas odeio os cristãos, pois não vivem segundo os ensinamentos de Cristo”.
A ganância e o amor ao dinheiro estão corrompendo a igreja de Cristo, pois até os sacramentos já estão sendo comercializados em algumas comunidades. Já não se pergunta mais a respeito da fé concreta do membro, mas sim se pergunta se ele está em dia com suas contribuições. O que era graça agora está se tornando negócio. Precisamos lembrar as palavras de Lutero que diz que a igreja está em constante reforma, e fazer novamente uma varredura em toda heresia que já se instalou em nossas igrejas. Pois, quando a igreja já não faz diferença no mundo, ela já não é mais igreja.
Permanece a pergunta: que tipo de comunidade tenho sido, ou que tipo de ministro ou ministra eu tenho sido?

Os ministros e ministras apadrinhados
A amizade é uma das coisas mais lindas entre os seres humanos, mas como diz um ditado popular: “amigos, amigos, negócios a parte”.
Estamos falando de ministério, estamos lidando com as coisas de Deus, não podemos delegar cargo a um ministro ou ministra quando este não apresenta as exigências bíblicas para o mesmo, como nos aponta Tt 1.5-16 e tantas outras passagens bíblicas. Delegar ou não delegar cargo não é julgar ou excluir tal pessoa da comunidade, mas preservar o bom testemunho de Cristo diante do mundo. Novamente, a igreja tem falhado neste aspecto. Por amizade ou por pena, pessoas sem as exigências do evangelho estão ganhando o ministério. A ética e a moral já não contam para a incumbência de uma pessoa exercer o ministério. Ministros e ministras que causam escândalos numa comunidade, muitas vezes, são transferidos para outras comunidades justamente por terem “amigos” que os ajudam. Não se trata mais o problema, simplesmente, o mesmo é transferido para outro lugar e, com isso, quem sofre novamente é o corpo de Cristo.
Lembremos o que disse Martin Luther King: “O comunismo existe hoje por que o cristianismo não está sendo suficientemente cristão”. Acredito que não precisamos mais de outras palavras para rever o nosso cristianismo e o mundo de hoje.

Os ministros chamados por Deus
Deus chama todas as pessoas, cada uma para uma finalidade e distribui um ou mais dons para cada um para a edificação do corpo de Cristo (1 Co 12); alguns vão se tornar liderança na igreja, outros na política, uma vez que toda autoridade é constituída por Deus (Rm 13.1-7). Cada ser humano é chamado para fazer alguma coisa e ninguém é mais importante por ter um cargo mais elevado – todos são iguais perante os olhos de Deus. Ninguém deve se considerar indigno por fazer algo que aos olhos humanos não parece ser nada. Mas como aqui estamos tratando de ministros e ministras chamados por Deus, vamos para o que a Bíblia requer de um ministro ou ministra.
Em 1 Tm 3.1-13; 4.6-16; 5.17-25; 6.3-10; Tt 1.5-16; 1 Pe 5.1-4 temos qualidades ou exigências para um fiel ministro ou ministra do evangelho. Deus chama pessoas não segundo a sua aparência ou status social. Vejamos quem era Paulo: um romano que prendia cristãos e os açoitava. Hoje, diríamos que Paulo era um marginal, uma pessoa que merecia a morte e não a graça de Deus. Este mesmo homem foi chamado por Deus e aceitou tal chamado e, então, foi exercer o seu ministério. Deus não envia ninguém que anda com a vida torta. Nunca podemos olhar para o passado da pessoa, o que importa é como está a vida dela a partir do momento em que recebe a Cristo como seu Senhor e Salvador, pois qualquer pessoa que não vive o que prega, não tem autoridade nenhuma para ensinar.
Olhamos para as escrituras e para os ministros e ministras que presidem hoje: estes têm as qualidades de um ministro ou de uma ministra segundo os preceitos bíblicos? Caso a resposta é não, devem, então, deixar o ministério, pois não são aptos para isto. Novamente digo, não estamos julgando ou excluindo estes da igreja de Cristo. Simplesmente, tais pessoas, para exercerem um ministério, precisam das qualidades que a Bíblia ensina. Nenhuma empresa contrata uma pessoa para o cargo de administração se a pessoa não sabe administração, ou até a pessoa pode ser um ótimo administrador, mas se a empresa tem conhecimento do verdadeiro caráter e ética da mesma, ela não contrata tal pessoa. Se uma empresa age assim, nós da igreja não deveríamos pensar muito mais em nossas responsabilidades, em se tratando das coisas de Deus e do testemunho de Cristo?
Pensemos ainda neste texto do Pastor Leonard Ravenhil: “A maior vergonha de nossos dias é que a santidade que ensinamos é anulada pela impiedade de nosso modo de viver. Para fazer frente a esta geração ávida pelo pecado, só uma igreja ávida pela oração. Por que tarda o avivamento? A resposta é muito simples. Tarda porque muitos pregadores e evangelistas estão mais preocupados com dinheiro, fama e aceitação pessoal do que em levar os perdidos ao arrependimento. Quando há algo na Bíblia que as igrejas não gostam, elas o chamam de legalismo. Se Jesus tivesse pregado a mesma mensagem que os ministros de hoje pregam, Ele nunca teria sido crucificado. A Igreja costumava ser um barco resgatando os que perecem. Agora, ela é um cruzeiro recrutando pessoas promissoras. Será que um marinheiro ficaria parado se ouvisse o clamor de um naufrago? Será que um médico permaneceria sentado comodamente, deixando seus pacientes morrerem? Será que um bombeiro, ao saber que alguém está perecendo no fogo, ficaria parado e não prestaria socorro? E você, conseguiria ficar à vontade em Sião vendo o mundo ao seu redor ser condenado? A estatura espiritual de um cristão é determinada pelas suas orações, quem não ora está se desviando. O púlpito pode ser uma vitrine onde o pregador exibe seus talentos, mas no aposento da oração não temos como dar um jeito de aparecer”.

Irio Edemar Genz